terça-feira, 25 de novembro de 2008

EDUCAÇÃO FÍSICA - Biomecânica da Corrida de Rua

[ Educação Física ]



Depois de virar uma febre nos anos 70 e sair de moda nos anos 90, a corrida recupera o gás e alastra-se por todas as grandes capitais do planeta. É o melhor exercício físico para prevenir diversas doenças - hipertensão, infarto, obstrução coronárias, muitos tipos de câncer, como os de próstata, de mama e de intestino, diabetes e derrames - segundo as últimas pesquisas de universidades dos Estados Unidos e do Canadá. E ainda emagrece mais rapidamente. Mas muito cuidado. A corrida é o exercício físico que também oferece os maiores riscos de lesões, devido ao seu impacto que joga, a cada passada, cinco vezes o peso do corpo em cada pé.


Para livrar a corrida de todos os perigos, a biomecânica, que estuda os fundamentos mecânicos das ciências biológicas, especialmente das musculares e das articulares, aliou-se à indústria de calçados de alta tecnologia e garantiu à atividade a segurança que ela precisava para ser, enfim, a melhor de todas. É por esta razão, segundo o professor de educação física Norton Martinsde Freitas, que a corrida voltou a ser um exercício "de massa", cultuado nas ruas e até nas academias, através das concorridas running classes. Norton é maratonista desde a década de 70. " Naquela época valorizava-se os grandes volumes de corrida, de tempo e distância longos, sem qualquer calçado apropriado. Logo as lesões começaram a aparecer", diz o professor.

treinamento perfeito - Mas não foram só as lesões nos calcanhares e nos joelhos que jogaram a corrida no limbo. Nos anos 90, o excesso de treinamento e o registro de algumas mortes por infarto de corredores rotularam a atividade de perigosa e a cautela médica não tardou em recomendar as caminhadas, mais fáceis, agradáveis e seguras. Porém ineficazes, como começaram a comprovar dezenas de pesquisas científicas que terminaram por ser adotadas pelo American College of Sopor Medicine (ACSM) e a American Heart Association (AHA). Hoje, a recomendação de que os exercícios físicos para serem benéficos devem ser de alta intensidade é quase unânime entre cientistas internacionais. Para o brasileiro Cláudio Gil Araújo, especialista em medicina do exercício da Clinimex, para se obter um bom condicionamento cardiorrespiratório e prevenir doenças é preciso trabalhar no limite do risco cardíaco. Ou seja, a corrida deve ser intensa a ponto de deixar seu praticante acima do ofegante. Isso não significa que um octagenário várias vezes safenado deva sair em disparada pelo calçadão. No seu caso, se ele ficar para lá de ofegante com uma simples caminhada já estará fazendo um exercício intenso. Cláudio ensina um teste fácil para avaliar a intensidade da corrida, o talk test, ou seja, a capacidade de falar durante o exercício. "Se você está correndo e consegue conversar normalmente, o seu exercício não está intenso, você pode acelerar um pouco mais. Mas se você está correndo e não consegue dizer uma única palavra, reduza, você está exagerando na intensidade", diz.

Uma pesquisa feita por um grupo de cientistas de universidades americanas e do Cooper Institute, publicada no último número da revista "Stroke", mostra que as atividades físicas de intensidade alta e moderada também estão associadas com o risco reduzido de isquemias e derrames. O estudo, coordenado pelo médico Chong Do Lee, do Departamento de Medicina do Exercício da Universidade do West Texas, analisou 23 pesquisas sobre derrames de 1996 a 2002 e constatou que a atividade física diminui a incidência de dois dos principais fatores de riscos de derrame - a hipertensão e as doenças cardíacas. Outra pesquisa feita por médicos da Universidade de Otawa, no Canadá, mostra que quanto maior a intensidade da atividade física melhor o controle da diabetes mellitus do tipo 2 (pacientes que não usam insulina e que estão apenas com alta dosagem de glicose no sangue). Os testes foram feitos com taxas de hemoglobina glicosada que indica a média de glicose no sangue dos últimos três meses de cada paciente.

Mas o que atrai as novas multidões para a corrida é o emagrecimento rápido. Cláudio Gil comenta que meia horinha de corrida gasta odobro de calorias que meia hora de caminhada. Mas para realizar esse objetivo urgente é preciso um mínimo de cautela, segundo o professor Norton Martins. Quem vai com muita ânsia à queimação de calorias termina com lesões e exigência de repouso. Norton recomenda que o sedentário comece alternando o três minutos de trote com dois de caminhada durante 20 minutos três vezes por semana.

Para correr é preciso fortalecer a musculatura e os ligamentos das articulações com os exercícios de musculação, três vezes por semana em média. A jogadora de vôlei de praia Ana Richa recorreu a Norton para treinar corrida na areia e ganhar condicionamento para vencer no Panamericano. "Aprendi com Norton que o exagero é prejudicial. Ele sempre me diz que o treinamento ideal é aquele que você acha que poderia ter corrido um pouco mais".

Para o coordenador do Centro de Excelência Esportiva da Escola Superior de Educação Física da Universidade de Pernambuco (UPE), Manoel Costa, é preciso ter cautela antes de começar a prática dacorrida. "Não existe exercício não recomendado, o que existe são pessoas que não devem fazer determinados tipos de esforço físico", explica. Segundo ele, uma avaliação médica e de um profissional de educação física são fundamentais antes se começar a correr, especialmente quando o pretenso corredor desconfia que tem hipertensão, coronariopatias, obesidade ou osteoporose.

A corrida é, antes de tudo, uma atividade prazerosa para o modelo e empresário, Renato Mendonça, 27 anos. Há cinco anos, ele alterna a malhação na academia Performance, em Boa Viagem, com as passadas no calçadão da orla. "Procuro correr de manhã bem cedo para evitar o sol muito quente e a aglomeração de pessoas. A corrida é ótima para manter o condicionamento físico", garante. Renato se preocupa em usar tênis adequado para preservar o tornozelo e o joelho.

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